Que fascismo é esse que “derrotamos” e que democracia é essa que venceu?

Somente nos últimos dias, os estudantes da União Juventude e Liberdade (UJL) foram acuados e agredidos pelas multidões esquerdistas do congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), onde também um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) discursava como se fosse um pregador de Diretório Acadêmico e o ministro da Justiça e Segurança Pública dizia que o projeto de lei de regulação de redes sociais era importante porque elas eram um espaço de difusão de “ideias de direita”.

O presidente da República já defendeu a “democracia” na Venezuela – e exaltou novamente, como sempre fez, regimes como o cubano e o nicaraguense – e a virtude do comunismo, além de dizer que a defesa da família, do patriotismo e de bons costumes é “fascismo”, praticado pelo governo anterior, que quase destruiu a democracia – não obstante esta seja, segundo ele, relativa, e, segundo sua ministra do Planejamento e Orçamento, uma questão de interpretação.

Participando de convescotes com os ministros do STF, o governo claramente agrada – ao menos por enquanto – a autoridades do Judiciário que se dizem parte da vitória contra o governo anterior (para depois pedirem desculpas esfarrapadas), que intensificaram a perseguição a qualquer ideia que considerem “extremista” – nenhuma das falas e práticas que acabo de citar, obviamente -, que continuam levando adiante um inquérito em que a suprema corte é ré, vítima e investigadora ao mesmo tempo; que lançam rap contra a liberdade de expressão como se fossem um Departamento de Imprensa e Propaganda ou escrevem decisões judiciais como quem escreve um panfleto.

Durante o processo eleitoral, um documentário e notícias com conteúdos incômodos à parcialidade eleita foram censurados – até previamente; redes sociais de parlamentares e influenciadores oposicionistas foram suprimidas, pessoas foram caladas e tiveram seus canais desmonetizados ou apagados por expressarem dúvidas, um parlamentar que fora procurador da Lava-Jato foi cassado por absoluta bobagem mesmo tendo sido o mais votado em seu estado. O MPF age para cassar a Jovem Pan, que vem sofrendo óbvia perseguição como veículo jornalístico. Ninguém sabe ao certo o quanto pode fazer críticas antes de ser enquadrado criativamente em algum tipo de “crime de opinião”.

O Legislativo fica de quatro costados diante de tudo isso, no máximo fazendo apontamentos inócuos ou pedidos hipócritas de retratação. O Executivo, sendo tudo contra seus adversários, se cala ou aplaude o que julga atitudes necessárias pela democracia, que, aliás, quer reforçar com a aprovação de seus próprios projetos autoritários.

Não, o governo Bolsonaro não era nenhum Jardim do Éden em matéria de valores liberais básicos. O Ministério da Justiça usou a Lei de Segurança Nacional em casos ridículos, como contra um outdoor que comparava o presidente a um “pequi roído”. O presidente também esteve no meio de ao menos uma manifestação, acenando e dizendo-se representado por ela, cuja maioria dos membros claramente apoiava coisas como o AI-5. Eu já disse tudo isso antes. Não era um modelo.

Mas sejamos francos: não há comparação.

O PT – o PT! – e o Alexandre de Moraes nos salvaram do quê? Em que aspecto a liberdade de expressão, a divisão de poderes, a imunidade parlamentar, o Estado de Direito, estão em uma situação melhor hoje do que antes? Em que aspecto podemos sentir que temos mais liberdade de falar hoje do que antes? Que fascismo é esse que “derrotamos”? Que democracia e que amor são esses que venceram?

Por:

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal.

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