Temos livre arbítrio? Especialista afirma que a genética condiciona nossas escolhas

Nossa sociedade preza bastante pelo senso de liberdade e autonomia, por isso, o conceito de livre arbítrio se tornou tão importante hoje em dia, sendo um conceito basilar tanto em diversas religiões pelo mundo, como em várias legislações internacionais.

Acreditamos que nossas escolhas moldam nosso destino e definem quem somos, mas afinal, será que realmente possuímos poder de escolha isenta ou estamos sendo conduzidos por uma força invisível, os nossos próprios genes?

O papel dos genes na vida humana

De acordo com o Pós PhD em neurociências e especialista em genômica, Dr. Fabiano de Abreu, nossa genética é o fio condutor de todas as nossas escolhas de vida, desde as mais simples às mais complexas.

Os nossos genes guiam a nossa vida, não apenas aspectos físicos, como cor dos olhos, tipo físico e formato dos cabelos, mas também predisposição a doenças, facilidade com certa profissão, nosso tipo emocional, inteligência, preferências sexuais, maiores ou menores chances de fazer uso de drogas, e tudo mais que você possa imaginar”.

“Mas apesar de termos certa noção disso, a maioria das pessoas não faz ideia da real influência deles no nosso dia a dia, ela vai muito além do que imaginamos. Estudos recentes sugerem que nossas decisões cotidianas, nossa escolha de profissão e até mesmo nossas reações emocionais podem ser profundamente influenciadas pela herança genética”, explica Dr. Fabiano de Abreu, coordenador do projeto GIP – Genetic Intelligence Project, dedicado a analisar a influência da genética na inteligência e em outros aspectos relacionados.

Mas e o ambiente? Ele é capaz de influenciar as nossas escolhas?

Mesmo que duas pessoas tivessem a genética idêntica, o que não é possível, ambientes diferentes poderiam trazer situações diferentes para cada uma, mas a forma como elas iriam lidar com elas seriam de acordo com a influência de mesmos genes e variantes, mas acionando diferentes devido a fatores ambientais desde clima, educação, interação, etc. Suas escolhas seguiram sendo influenciadas pelos mesmos genes, de maneira diferente devido aos fatores ambientais, explica Dr. Fabiano de Abreu.

“O ambiente determina, em grande parte, as situações às quais seremos expostos, por exemplo, se você tem uma boa ou má condição financeira, se terá traumas ao longo da vida, se terá proximidade com mais situações de estresse, se terá uma boa educação, entre outros, o que influencia diretamente o seu dia a dia, mas não a forma como você encara essas situações. O que muda, são quais genes deterministas para as situações específicas. Logo, a analogia de duas pessoas com o mesmo genoma, iria trazer consequências diferentes, mas com reações que seriam as mesmas se vividas a mesma situação”.

“Por exemplo, se uma pessoa tem predisposição genética ao alcoolismo e vive ao lado de um bar e é filha de pais alcoólatras, ela terá mais acesso à bebida e seus genes influenciarão a sua escolha de começar a beber, mas se ela vive longe de bares e nenhum familiar bebe, ela terá menor contato com a bebida, o que pode fazer com que ela não chegue ao extremo, mas que não impedirá de que, ao ter algum contato com a bebida, ela faça a mesma escolha de começar a beber”, explica Dr. Fabiano.

“As consequências da bebida, a depender do grau de exposição, vai revelar o resultado do ambiente proporcionado tendo como precursor os mesmos genes em situações diferentes e em resultados diferentes, mas com o mesmo precursor”.

E gêmeos? A genética faz terem as mesmas escolhas?

De acordo com o Dr. Fabiano de Abreu, mesmo em gêmeos idênticos, que não têm a mesma genética 100%, os genes agem da mesma forma, mesmo que em graus diferentes devido ao ambiente.

Gêmeos não tem uma genética totalmente idêntica, cada ser humano tem seu DNA próprio, mas apesar de os genes sempre agirem diante das nossas decisões, o ambiente afeta apenas o grau dessa ação. Por exemplo, se gêmeos têm predisposição genética à depressão e vivem em lares diferentes, um tem um trauma de infância e desenvolve a depressão, já o outro não tem traumas e não desenvolve a depressão, mas os mesmos genes vão continuar agindo, mesmo com as circunstâncias diferentes. No fim, não é livre arbítrio, são nossos genes agindo”, afirma.

Sobre Dr. Fabiano de Abreu Agrela

Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues MRSB é Pós PhD em Neurociências eleito membro da Sigma Xi, membro da Society for Neuroscience nos Estados Unidos , membro da Royal Society of Biology no Reino Unido e da APA – American Philosophical Association também nos Estados Unidos.

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